Gênero: Progressive/ Art rock
País: Alemanha
Ano: 2011
Comentário: Indo direto ao
ponto, com a fome de quem não resenha há décadas, vos trago essa obra prima
alaranjada dos sóis negros, de cujo trabalho já falei aqui. Sem brincadeira,
durante todo o tempo em que fiquei reclusa deste espaço pigniano, era este
álbum que eu estava compulsivamente ouvindo. Amando, vangloriando. Re-ouvindo.
Cada música entrava em processo de digestão prazerosa por em média, um mês. Não
porque eu sou louca (é bom frisar), mas porque ele é bom de verdade. Porém, é
uma jornada cheia de turbulências e mudanças de temperatura. Dá pra explorar
várias vibes inusitadas no caminho. Mas é aquela coisa, culpa do Pink Floyd
talvez, você tem que ouvir do começo ao fim pra entender a paisagem. Tem fases
histéricas, fases contemplativas, fases quebradeira pura e o que dificilmente
falta, fases românticas. Ele é completamente diferente do Existence. Sai em
disparada pra longe da melancolia profunda e delicada, embora dê umas ensaiadas
na queda em busca dela. Mas nunca fica lá no fundo do poço, prefere beirar à
loucura do que se cobrir daquele manto gótico e viscoso. Eu diria ainda, que o
elemento que controla a sanidade ou a falta dela, é a montanha russa percorrida
pelos teclados e o vocal. E tudo isso com um pé nos anos 70. É por isso que eu
sou apaixonada por prog, e especialmente pelo Dark Suns, cada álbum é uma
aventura.
“Toy”,
a música de abertura, está aí bem colocada. Ela em si mesma já traz diferentes
fases, já dando o recado do que você vai encontrar. Por ela você também já pode
registrar o potencial versátil do vocalista, que vai do suave ao estridente
como quem aciona sem querer o alarme do carro do vizinho. Aí você passa por “Eight
quiet minutes”, “Elephant” e “Diamond” degustando os picos e quedas da montanha
russa, e cai em “Not enough fingers”, pra dar uma anestesiada. Inteira
instrumental, ela aparece do nada com calmaria, e injeta um pouco de
estabilidade e meditação no meio do caminho. Mas pra não exagerar no descanso,
vem “Ghost” e entra direto dando aquela chacoalhada rápida, pra aí mesclar uma
deprezinha, e voltar pro stress aventureiro que a essas alturas, você já está
se acostumando. Mas a entrada de “That is why they all hate you in
hell” é sacanagem. Se
você apertar o play desavisado, fica um pouco traumatizado com a gritaria que
vai estuprar sua disposição. Mas como eu disse, uma vez acostumado, relaxa e g...
você entendeu. A estridência faz parte da emoção, estamos tratando de um álbum
anti-tédio, então não reclame. Mas tranqüilo, se você sobreviver a essa, será
recompensado devidamente em “Vespertine”, que é a segunda música mais longa do
álbum. Então força, conto contigo. Vai rolar um sax nervoso, coisa fina. O
finalzinho dela conclui com uma levadinha madura, de quem já passou por muita
coisa e sabe manter a serenidade. Depois dela vem “Scaleman”, que não dá
moleza, não é só porque você atingiu amostras da iluminação que tem que ficar
nessa onda de serenidade. Buda já fez isso pra gente. Tem que dar uma sacudida
pra lembrar que é jovem, mas evidenciar um piano, um vocal macio, que é coisa
de gente que sabe o que tá fazendo, pra onde vai, de onde vem. É tipo uma lição
de moral de quem não perde tempo com lamentações, mostra os erros e o que deve
ser aprendido, mas deixa o discurso bonito, jovial e enérgico. Prepara o campo
para a próxima geração. “Antipole”, por sua vez, vem com uns coros, meio que
dizendo - “Ok, vc chegou no céu. Nós anjos vamos te mostrar o filme da sua
vida”. Você se diverte né. Mas também se emociona porque vê muita coisa que dá
saudade. Não à toa, essa tem 14 minutos meu caro! É preciso, você chegou até
aqui, vai levar tempo pra juntar o quebra-cabeças, se recompor. E em tese, esse
seria o fim...
Mas o céu não é o
limite. Você ganhou um bônus de 21 minutos e 50 segundos de vida (ou 4
músicas). Tô upando no pacote o “Re-Orange”, EP acústico que te dá uma segunda
chance pra pagar os pecados. Mas como você foi uma pessoa muito boa, não é nada
difícil, é leve como um... acústico. Como pagar um pecadinho de ter roubado
laranjas de um pomar. Inclusive, vem com releituras. Mamão com açúcar (quem sabe
você tenha roubado mamões). Essa parte não precisa de nem meio mês pra digerir,
é só curtir as 4 seguidas mesmo. Na moralzinha. Rever algumas emoções, já com o
gostinho de quem conhece o caminho. “The devil finger´s peace” relê a letra de
“Toy”, acrescentando novos insights, numa cor jazz. “Megalomaniacs” fala de
“Scaleman”, e é uma das minhas preferidas; traz uma Juliet pra dividir um pouco
as emoções de um Romeo que tanto sangra e tanto procura. “The sad song of the
elephant man”, que relê “Elephants”, não te tira desse lugar mais sensível,
pelo contrário, dá uma reforçada gostosa. Lembra “Stairway to Heaven”. Mas pra
não rolar choro ou coisa do tipo, vem “Four quieter minutes”, relendo “Eight
quiet minutes”, com um vocal mais malandrinho, porque afinal você sabe que não
foi tão bonzinho assim, né? Foram muitas laranjas e muitos mamões... Uns
cigarros talvez.
E a capella, só você
e o coro das suas próprias outras vozes se despedem dessa jornada que vai dando
seu adeus. Seus últimos minutos, seu último mamão, seu último cigarro.
My last cigarette
Here
in the sunlit corner
I
found that peace
Being
just like
Mine.
Tracklist:
1. Toy (3:53)
2. Eight Quiet Minutes (3:53)
3. Elephant (4:55)
4. Diamond (3:14)
5. Not Enough Fingers (4:59)
6. Ghost (6:26)
7. That Is Why They All Hate You In Hell (4:31)
8. Vespertine (8:26)
9. Scaleman (5:21)
10. Antipole (14:13)
Re-Orange Acoustic EP
1. The Devil Fingers' Peace (6:21)
2. Megalomaniacs (5:12)
3. The Sad Song of the Elephant Man (5:54)
4. Four Quieter Minutes (4:19)
Download:
MEGA
Excelente álbum, excelente banda! =)
Esse eu já tinha baixado... hehehe